Neste sábado, 29 de fevereiro, o Ministro da Justiça afirmou que a paralisação dos policiais militares do Ceará é ilegal. Bom! Ao ler apenas esse trecho da fala de Moro, pensei que ele havia, finalmente, criado coragem para se mostrar contra a greve. Infelizmente, ele continua: “…claro que o policial não pode ser tratado de maneira nenhuma como um criminoso”.
Em uma primeira análise, a frase é simplesmente ilógica. Apelo ao dicionário para demonstrar o problema: a palavra criminoso consta como “que ou aquele que infringiu por ação ou omissão o código penal, cometendo crime; delinquente, réu.”. Portanto, ao cometer atos ilícitos os policiais se tornam, por definição, criminosos.
Deixo o leitor decidir se criminosos devem ser tratados como tais ou se preferem a ideia de Moro: dar privilégio a bandidos, quando fardados.
Há outra interpretação possível para a fala do Ministro. Uma talvez ainda pior. Ao se referir a “criminosos” é possível que, na mente dele, a palavra se refira a uma condição intrínseca de maldade: alguns nascem bons, outros não têm tanta sorte. O ladrão pobre, pé de chinelo, obviamente, é o mal; o verdadeiro criminoso; aquele que merece ser tratado como escória. O policial é virtuoso por natureza, não está no mesmo patamar moral dos demais.
O ex-juíz me lembra um pouco Raslkolnikov, personagem de Dostoievski. Este acreditava ser um “timoneiro da humanidade”, um homem entre dez mil. O “homem extraordinário” não tem motivo para se importar com o inferior, que seria “um piolho – inútil, nojento e nocivo”.
O nosso timoneiro, Sergio Moro, parece ter uma visão singular de si e de seus semelhantes. Aqueles, considerados por ele, virtuosos tem permissão para fazer o que bem entendem, afinal, tem um objetivo grandioso e justo. Aos demais, o código penal.
Já eu cá, considero-me virtuoso apenas por ter conseguido tirar algo de valor do que disse o Ministro da Justiça: os policiais que cometem ilegalidades, de fato, não devem ser tratados como criminosos comuns; são muito piores que estes.
Apenas os agentes do Estado têm o uso legítimo da violência, que é dado, em teoria, apenas aos mais confiáveis dos Homens. Os policiais são o que a sociedade civil tem como modelo de Justiça. Devem ser exemplos. Ao cometer atos ilícitos, devem pagar ainda mais caro.